quinta-feira, 4 de abril de 2024

Enecs beagaziano


O mais bonito foi o caderno de vinho,
Encontrar amores mesmo amor,
Fazer a troca.
A sandália perdida emprestada,
Possibilitou uma alpercata de algodão
Que não me deixou de pé no chão,
Pois soul mineirinha d’uma semana,
Fã do café com pão de queijo,
Ficojiló -- doce deleite,
Tropeiro, a aguardente.
E tinha uma gente hospitaleira que perguntava sempre:
Cê tá gostano?
Gostando das flores, da intensidade das cores, sabores, do frio...
Não da secura, da escassez de chuva,
Que deixou todo mundo Cascão...
Belô é bem diferente da terra da gente,
Lá o morango é morango meesmo
E em Pernambuco, jiló é comida pra passarinho cantar melhor.
Minas têm uns trem estranho,
Lá o ouro é preto e a pedra é de sabão,
Mas no final,
Tudo vira poesia.
É, me parece que a vida em BH poderia ser boa.
Se tivéssemos o fumo de Pernambuco.

domingo, 14 de abril de 2013

Ablução


Pra você,
Fiz um poema no meu corpo.
No espelho do banheiro
A roupa em mim se esfregando
Lembrou-me a tua pegada forte.
A mão que me tirou o sutiã
Cafungou-me as costas
Como tu me cheiras.
A mão que desabotoou meu short
 Tinha a timidez de uma preliminar.
A calcinha saiu arrancada
Estando eu apressada a molhar-me no chuveiro.
Minha pele recebeu a água
Como o toque de teus lábios
Me causando ablução.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


Um dia você me beijou bem intensamente.
Abocanhando com os dentes minha língua,
Nos beijamos loucamente,
 No meio da rua,
 No marco zero,
 Praça do arsenal,
 Bares,
 No cais,
 Em todos os lugares.
 E cada beijo demorava uma eternidade.
 Eu não me preocupava se estava enfiando demais a língua
 Ou se estava com um hálito bom.
 Só beijando, beijando, beijando.
 Acho q tínhamos bebido bastante,
Bem soltos.

Adoro também quando você beija no canto da boca,
 Quase roubando, meio escondido, meio afetivo...
 Mas eu preciso de beijos inteiros,
 Bem marcados, demorados, robustos.
E com direito a gemidos...


É chegada a primavera, tempo de todas as flores:
Já tenho um buquê delas e não é o bastante!
Quero sentir todos os perfumes,
Ver os verdes cintilantes,
Voar como os amantes e
Sonhar como as crianças.
A primavera é a dança que escolhi para ser fada...
Mas atenção, cuidado:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.

E em beleza tudo se imprime:
O vento sacudindo as árvores,
A mãe ninando o menino,
A flor florando na estrada,
Até mesmo a faca do cabo fino.
 A vida já tem rumo esperado:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.

O verde nos prega peça
Com tantas cores, amores na praça,
Se esquece amarelo, envelhece,
Aparece vermelho, marrom, degradê,
Insistente como quem quer se vê
E surge até em terrenos asfaltados:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.


No transito é confusão todo dia:
 A mulher reclama do velho,
O homem diz: quem dirige mal é a mulher,
Atravessa-se fora da faixa,
Atropelando quem anda a pé,
É buzina, apito e multa,
Mas pra encontrar você eu saio até atrasado:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.

A solidão é um veneno corrosivo:
Mata, aperta, maltrata,
A gente dá um nó, ela vai lá e desata,
Quando se grita socorro, põe a mão na boca e abafa,
Com todo gosto do mundo,
Deixo a solidão no passado:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.

Mas minha paixão é grande,
Portanto, digo, amor:
Eu amo todas as coisas que Deus nos deu e criou,
Amo a flor que nasce, os animais e as pessoas,
Amo as coisas bonitas, as criaturas de índole boa,
Amo ainda mais quem anda a meu lado:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.



Amo tanto essa vida
Que amo até a saudade:
Bem certo ela machuca,
Desconsiderando classe, cor, idade,
Mas é um sentimento verdadeiro
Não comporta falsidade,
Saudade eu tenho de quem eu ainda aguardo:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.

Quando estou apaixonado
Escrevo carta, deixo bilhete, mando flores,
Grito aos quatro ventos:
Já não sinto mais dores!
Ando atento, vejo o mundo,
Desatento, confundo as cores,
E se receber uma ligação vou correndo apressado:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.

Quando estou apaixonado,
Canto, danço e escrevo,
Assobiando, passa o tempo e não vejo,
Anoiteço e amanheço brindando à alegria,
Todo dia é dia de viver a vida bem contente
E nos meus versos traço rimas independentes
Quando estou enamorado:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.

Apaixonado escrevo estes versos somente,
Por hora, agora, não para sempre,
Pois todo dia a vida nos dá lição
Que amar é sempre a melhor solução,
Rejuvenesce, contagia, e revigora
Se é dado com boa intenção,
Por isso convido o leitor a se entregar descuidado:
Todo mundo é poeta quando está apaixonado.


Tanto esperei tua ligação,
Uma mensagem, visita.
 O dia inteiro e à noite esperei.
Tarde resolvi te procurar,
 Mas a resposta foi nenhuma.
 Já falei e de novo tenho que expressar meu medo,
Medo de estar te sufocando,
 Medo de atrapalhar tua vida,
 Medo de não ser correspondida.
 Fiz até charminho e esperei uma surpresa,
 Mas temo que surpresa eu tenha com você dizendo adeus.
Com isso, amanhã não vou te ligar.
 Amanhã vou sofrer a tua falta sem anúncios luminosos,
 Vou chorar sem te contar minha dor,
 Não vou deixar que você saiba do meu dia,
 Não vou colocar a roupa mais bonita,
 Não vou te esperar.
 Vou continuar pensando em você,
O dia inteiro
Mas se você me ligar não vou atender.

Soneto Dissonante

Discordo das formas propostas
Quadradamente planejadas,
Rimas limadas,
Montadas para encaixarem perfeitamente.

Gosto de versos soltos,
Independentes,
Rimas avulsas
Ou sem rimas simplesmente.

Cacos, tragos, rabiscos,
Ideias que giram sobre o mundo
Sem dono, mas com propriedade.

A estética deste soneto
É ao amor e à liberdade.

Recife sujo, lixo de sobra,
Lixo no rio, lixo que dobra
Na beira
O abismo;
O lixo é o enfeite do rio
O lixo é a força daquilo que sobra,
É luxo quando se transforma
E agora tá virando moda
Pra enfeitar dentro a casa
Pra enfrentar rio adentro
O movimento da maré:
Quando sobe, lixo corre para o mar,
Quando vaza, enfia-se na lama.

Lixo no nariz da cidade
Que chama o rio de sujo
E o rio grita sangrento:
Lamento
Não banhar, não pescar, não fluir...
Não sou armazém nem cemitério do que não lhe convém.

O rio está um rio de lixo,
Lixo de quem?
Lixo a matar,
Lixo a colorir,
Lixo pra exibir na foto do jornal,
Lixo pra turista ver,
Atração multicultural,
E o candidato usa o lixo do rio na sua propaganda,
Lixo ganhou fama e ibope,
Mas só na televisão,
Em horário eleitoral,
No rio,
Lixo cheira à morte,
Lixo cheira mal...